quarta-feira, 19 de junho de 2019

Princípios de cidadania e participação social: um café e um diálogo no Hospital Universitário (o H.U.) da UFGD

No dia 12 de junho de 2019, o PET-Geografia da UFGD realizou em conjunto com o Centro Acadêmico do curso de medicina uma ação social no Hospital Universitário da UFGD, o H.U. Foram entregues mais de 150 kits de café da manhã aos pacientes que aguardavam atendimento.
A atividade visou conscientizar os usuários do H.U. sobre a importância das universidades e da saúde pública gratuita e de qualidade. A ação social foi pensada justamente no contexto em que as Universidade Federais tiveram cortes (contingenciamento) de suas verbas, condição que compromete a produção de conhecimento e inovação tecnológica gerada por elas. A ação primou por um diálogo, isso a fim de explicar as reais consequências e implicações negativas dos cortes (contingenciamento) para UFGD, o H.U., e, também para toda região da grande Dourados, essencialmente para os pacientes.
Ações como essa têm se mostrado cada vez mais necessárias, demonstrar a importância social das universidades para aqueles que não vivem o cotidiano universitário é uma maneira de aproximar realidades que muitas vezes estão distantes. Fato, as Universidades estão sofrendo com os cortes de seus recursos e a perda de sua autonomia, e, para reverter esse quadro, torna-se necessário demonstrar seu papel social, o qual envolve evidenciar para a sociedade os pilares de sua existência: a pesquisa, o ensino e a extensão. 
É urgente ações que possam colaborar com a desconstrução da imagem posta no senso comum, que a universidade pública é elitista e não colabora com o desenvolvimento do Brasil.  Isso não condiz com a realidade! A universidade pública brasileira produz conhecimento e permitem o acesso a uma formação de qualidade para muitos, sem elas muitos não poderiam ter um curso superior. 
Nesse sentido a ação realizada pelo PET-Geografia e o C.A de Medicina se deu para demonstrar a importância e o papel social realizado pelas Universidades Públicas que respondem por mais de 95% da produção científica do Brasil, demonstrando que o corte (contingenciamento) do orçamento da UFGD não atinge só os universitários, os acadêmicos em si, mas a  própria população douradense e da região, principalmente daqueles mais vulneráveis e que dependem de educação e saúde gratuita, dos serviços públicos.
É fato, corte (contingenciamento) dos recursos da UFGD atingem o andamento de obras do hospital universitário, a aquisição de equipamentos necessários para a realização de cirurgias e/ou de procedimentos mais complexos. Isso sem falar da aquisição de coisas simples (material de higiene) e a diminuição de atividades essenciais para o bom funcionamento da Universidade, do hospital, como a renovação de contratos com as empresas terceirizadas responsáveis pela segurança e limpeza. De forma indireta os cortes (contingenciamento) implica no aumento do desemprego.
A ampliação do diálogo dos alunos, docentes e técnicos com a população de maneira geral permite que pessoas possam conhecer a universidade e com isso compreender sua importância, com isso defende-la. A ação do PETGeografia e do CA do curso de medicina, um café e o diálogo, objetivou, portanto, aproximar universos distantes, mas com uma interdependência real.
Prevista no planejamento anual, a atividade reforça conceitos de cidadania e participação social, e, nesse sentido, os resultados foram gratificantes e convergem para os princípios do Programa PET.  Os atendidos pelo H.U. se mostraram receptivos a compreender o momento vivido pelas Universidades Públicas, demonstrando que nesse contexto, a desinformação é um elemento central a ser combatido.
O PETGeografia agradece a colaboração do CA do curso de Medicina pela oportunidade, pela parceria. Agradecemos também a população que se dispôs a dialogar e compreender o contexto, a conjuntura atual referente aos cortes (contingenciamento) e a importância da UFGD, uma universidade inclusiva e de grande importância para o desenvolvimento regional, para o desenvolvimento do Brasil. 



PETianos: Anderson Luiz Rodrigues de Oliveira e 
 Anderson Aparecido dos Santos

sábado, 15 de junho de 2019

A contemporaneidade de Saramago (O ensaio sobre a cegueira)

No dia 10 de junho de 2019, o PET-GEOGRAFIA da UFGD realizou o Colóquio “A contemporaneidade de Saramago”, tendo como convidada a Profª. Drª. Iris Selene Conrado (FACALE/UFGD). O encontro foi marcado por um diálogo instigante sobre a obra “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago.  

O encontro permitiu discutir aspectos sobre as linguagens fílmica e escrita, como elas se aproximam do nosso cotidiano, isso diante das diferentes geografias que são produzidas e que podemos identificar ao longo da leitura do livro e do filme homônimo.

Saramago faz a narrativa de maneira universalizada. Entretanto o leitor pode entender que se trata da organização de uma sociedade contemporânea, isso por meio das citações e seus contextos, aviões, prédios, elementos de trânsito, carros, semáforos são citados na narrativa, mas não cita o local, a cidade ou país em que a história se passa. É nesse cenário que se estabelece a aproximação do livro com a realidade.

Pode-se entender a obra também a partir da ideia dos ensaios e da forma da escrita. Nesse livro o autor discorre o enredo colocando personagens dentro de contextos específicos, como se analisasse minuciosamente os aspectos que constituem o ser humano, e, consequentemente, o reflexo dessas características no modo de vida das pessoas – isso em um universo muito específico que é o do caos causado pela “cegueira branca”. Saramago faz uma análise da condição humana, na qual se refletem as características pessoais, psicológicas, ambientais, etc. dos indivíduos que integram os grupos humanos, esses responsáveis por produzir a organização (sócio)espacial.

O ensaio evidencia como ser humano se comporta de maneira conformada diante da estrutura de sociedade que está inserido (“take for granted” – “tomar como certo”, citou a professora Iris) diante de várias outras possibilidades de ação.

A história do livro vai gerando o retrato de como alguns grupos humanos se comportariam após a queda dessa “estrutura”. O que antes os obrigava a se adaptarem às regras da sociedade (as normas, os valores, as convenções), teria acabado. As instituições sociais e culturais que determinam a maneira de pensar, agir e sentir, estando agora inativas. Como agir? Como como se comportar?

É possível afirmar que a ficção preenche uma necessidade humana, a de fantasiar, abstrair, criar uma realidade sobre algo ou alguém. O acesso às histórias da ficção nos cria empatia ou identificação com os personagens, nos dando a oportunidade de refletir sobre temas diversos, que talvez nunca tenham sido pensados anteriormente, problemas sociais, relações humanas, questões filosóficas. Ou seja, se estabelece a relação de que quanto menos acesso à linguagens como a literatura, a ficção, as narrativas orais, maior a nossa proximidade com a barbárie, onde os sentimentos mais primitivos vem à tona e a ética é posta à prova.

A cegueira social pode ser intensificada por diversas formas. Hoje, pela utilização de instrumentos das tecnologias digitais, como as redes sociais, por analogia, presenciamos uma “cegueira branca”. Evidencia-se no contexto social alguns fragmentos de uma imagem construída sobre algo ou alguém que nem sempre é real, vive-se a ficção do real, uma vida fragmentada. Isso acaba nos colocando em um mesmo conjunto de pessoas acometidas pela “cegueira branca”, tirando a pluralidade e a diversidade da convivência, criando bolhas sociais, nas quais os indivíduos de determinado grupo não enxergam as problemáticas enfrentadas pelos outros, muito menos conseguem ter uma visão geral do mundo como um todo.

E se não se enxerga a complexidade, não se vê os efeitos das ações pessoais no coletivo. Isso gera alienação, tornando os grupos mais fáceis de serem manipulados e, também, gerando frustração (depressão, transtornos) em uma análise mais psicológica. Afinal o que se mostra nas redes sociais é só um fragmento, uma parte que se permite ser vista (o privado torna-se público, mas fragmentado). Enxerga-se fragmentos que formam um conjunto de processos que constituem determinado objeto ou indivíduo. Isso não é a vida real!

Colóquios como esse fazem parte da construção do pensamento crítico, tem como objetivo criar um ambiente para permitir o diálogo certa temática de maneira profunda. Aos participantes visa oportunizar possibilidades para que passem a observar por meio de outro prisma as relações humanas e as transversalidades presentes nela.

Os colóquios são, de certa forma, colírios que permitem aos participantes enxergarem além dá névoa posta, além da “cegueira branca”.




Andressa Silva Hoffmann
PETiana – Aluna do 3ºSemestre
11 de junho de 2019