No
dia 10 de junho de 2019, o PET-GEOGRAFIA da UFGD realizou o Colóquio “A
contemporaneidade de Saramago”, tendo como convidada a Profª. Drª. Iris Selene Conrado
(FACALE/UFGD). O encontro foi marcado por um diálogo instigante sobre a obra “Ensaio
sobre a Cegueira” de José Saramago.
O
encontro permitiu discutir aspectos sobre as linguagens fílmica e escrita, como
elas se aproximam do nosso cotidiano, isso diante das diferentes geografias que
são produzidas e que podemos identificar ao longo da leitura do livro e do
filme homônimo.
Saramago
faz a narrativa de maneira universalizada. Entretanto o leitor pode entender
que se trata da organização de uma sociedade contemporânea, isso por meio das
citações e seus contextos, aviões, prédios, elementos de trânsito, carros, semáforos
são citados na narrativa, mas não cita o local, a cidade ou país em que a
história se passa. É nesse cenário que se estabelece a aproximação do livro com
a realidade.
Pode-se
entender a obra também a partir da ideia dos ensaios e da forma da escrita. Nesse
livro o autor discorre o enredo colocando personagens dentro de contextos
específicos, como se analisasse minuciosamente os aspectos que constituem o ser
humano, e, consequentemente, o reflexo dessas características no modo de vida das
pessoas – isso em um universo muito específico que é o do caos causado pela “cegueira branca”. Saramago faz uma
análise da condição humana, na qual se refletem as características pessoais,
psicológicas, ambientais, etc. dos indivíduos que integram os grupos humanos,
esses responsáveis por produzir a organização (sócio)espacial.
O
ensaio evidencia como ser humano se comporta de maneira conformada diante da
estrutura de sociedade que está inserido (“take for granted” – “tomar como
certo”, citou a professora Iris) diante de várias outras possibilidades de
ação.
A
história do livro vai gerando o retrato de como alguns grupos humanos se
comportariam após a queda dessa “estrutura”. O que antes os obrigava a se
adaptarem às regras da sociedade (as normas, os valores, as convenções), teria
acabado. As instituições sociais e culturais que determinam a maneira de pensar,
agir e sentir, estando agora inativas. Como agir?
Como como se comportar?
É
possível afirmar que a ficção preenche uma necessidade humana, a de fantasiar,
abstrair, criar uma realidade sobre algo ou alguém. O acesso às histórias da
ficção nos cria empatia ou identificação com os personagens, nos dando a
oportunidade de refletir sobre temas diversos, que talvez nunca tenham sido
pensados anteriormente, problemas sociais, relações humanas, questões filosóficas.
Ou seja, se estabelece a relação de que quanto menos acesso à linguagens como a
literatura, a ficção, as narrativas orais, maior a nossa proximidade com a
barbárie, onde os sentimentos mais primitivos vem à tona e a ética é posta à
prova.
A
cegueira social pode ser intensificada por diversas formas. Hoje, pela
utilização de instrumentos das tecnologias digitais, como as redes sociais, por
analogia, presenciamos uma “cegueira branca”. Evidencia-se no contexto social
alguns fragmentos de uma imagem construída sobre algo ou alguém que nem sempre
é real, vive-se a ficção do real, uma vida fragmentada. Isso acaba nos
colocando em um mesmo conjunto de pessoas acometidas pela “cegueira branca”,
tirando a pluralidade e a diversidade da convivência, criando bolhas sociais, nas
quais os indivíduos de determinado grupo não enxergam as problemáticas
enfrentadas pelos outros, muito menos conseguem ter uma visão geral do mundo
como um todo.
E se
não se enxerga a complexidade, não se vê os efeitos das ações pessoais no coletivo.
Isso gera alienação, tornando os grupos mais fáceis de serem manipulados e,
também, gerando frustração (depressão, transtornos) em uma análise mais
psicológica. Afinal o que se mostra nas redes sociais é só um fragmento, uma
parte que se permite ser vista (o privado torna-se público, mas fragmentado).
Enxerga-se fragmentos que formam um conjunto de processos que constituem
determinado objeto ou indivíduo. Isso não é a vida real!
Colóquios
como esse fazem parte da construção do pensamento crítico, tem como objetivo criar
um ambiente para permitir o diálogo certa temática de maneira profunda. Aos
participantes visa oportunizar possibilidades para que passem a observar por
meio de outro prisma as relações humanas e as transversalidades presentes nela.
Os colóquios são, de
certa forma, colírios que permitem aos participantes enxergarem além dá névoa
posta, além da “cegueira branca”.
Andressa Silva Hoffmann
PETiana – Aluna do 3ºSemestre
11 de junho de 2019
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